sexta-feira, 26 de março de 2010

SuperVia se desculpa e admite atrasos diários

Fonte: O Dia

Após falhas em duas composições, em Saracuruna, os passageiros destruíram vagões e plataforma

POR GERALDO PERELO

Rio - Diretor de Marketing da SuperVia, José Carlos Leitão lamentou o atraso das duas composições e pediu desculpas aos usuários. Segundo ele, 10% dos passageiros de trem (50 mil por dia) sofrem atrasos de 10 a 20 minutos. “Essas pessoas têm motivos para ficar insatisfeitas”, admitiu. A concessionária registrou a depredação na Delegacia de Defesa dos Serviços Delegados, que concentrará as investigações.

Incêndio começou quando um passageiro colocou fogo em copo descartável | Foto: Andrew Diniz

O quebra-quebra de ontem aconteceu dois dias após a Agetransp ter multado a SuperVia em R$ 120 mil pelas chicotadas de abril de 2009, desferidas por seguranças contra passageiros, para empurrá-los para dentro de trem superlotado em Madureira.

A revolta dos passageiros contra a SuperVia também não é de hoje. Em outubro, vagões em Mesquita foram incendiados e as estações de Nilópolis e Nova Iguaçu, depredadas, após pane em trem do ramal de Japeri, que os obrigou a caminhar pelos trilhos.

Panes, quebra-quebra e incêndio nos trens

Duas panes seguidas em dois trens da SuperVia ontem de manhã transformaram a estação de Saracuruna, em Duque de Caxias, na Baixada — onde 2 mil pessoas tentavam seguir viagem para o trabalho —, em praça de guerra. Um vagão foi incendiado, e a plataforma e bilheterias, depredadas e saqueadas em atos de vandalismo, contidos só 20 minutos depois, com a chegada do Grupamento de Policiamento Ferroviário. A concessionária estima o prejuízo em R$ 100 mil — entre dinheiro, bilhetes e vales roubados e patrimônio depredado, como catracas eletrônicas e cadeiras. Os danos às composições destruídas ainda estão sendo calculados.

Por mais de duas horas, os trens do ramal de Saracuruna só circularam até a estação de Campos Elíseos. O tráfego foi normalizado no trecho às 8h44, com a chegada de reforço policial do 15º BPM (Caxias).

Às 6h31, passageiros que lotavam o trem na Plataforma 1 aguardando a partida em direção à Central do Brasil tiveram que desembarcar após problema no ar-condicionado. Já dentro do segundo trem, de prefixo E947, que estava na Plataforma 2, os usuários esperaram até as 6h58, mas outra falha técnica — no sistema de tração ou elétrico — impediu a partida. Confinados no calor e sem informação, os passageiros se revoltaram, e o quebra-quebra começou.

PASSAGEIROS IMPEDIRAM USO DE EXTINTOR

A costureira Sandra Paixão da Silva, 30 anos, que prestou queixa contra a SuperVia na 60ª DP (Campos Elíseos) para reaver a passagem, contou que viu um jovem moreno e sem camisa atear fogo a um copo descartável com guardanapo. “As chamas se alastraram pelo banco e tomaram o quarto vagão”, lembra. Segundo ela, passageiros impediram que um funcionário usasse o extintor de incêndio. As chamas só foram dominadas 20 minutos depois por bombeiros de Caxias, que socorreram uma mulher com ferimento leve.

Vagão queimado após ação de vândalos na estação de Saracuruna | Foto: Agência O Dia

Nesse momento, passageiros destruíam a plataforma e outros vagões, arrancando janelas que eram vedadas. A multidão saqueou bilheterias e arremessou cadeiras e documentos da SuperVia na ferrovia. O ambulante Adilson Nascimento, 21, foi levado para a 62ª DP (Imbariê) acusado de furtar R$ 129 de um guichê. Ele alegou que o dinheiro estava no chão e jurou que devolveria. A doméstica Janete de Souza, 49, teve a bolsa furtada. “Levaram R$ 300 e fiquei sem documento”, contou.

O comandante do 15º BPM, Sérgio Mendes, disse que a SuperVia demorou para acionar o batalhão e lembrou que, a cerca de 100 metros dali, há um Destacamento de Policiamento Ostensivo. “Poderíamos ter evitado o tumulto generalizado”, disse.

A situação já estava sob controle quando novo tumulto se formou no acesso às bilheterias, onde passageiros exigiam o dinheiro de volta. “Essa palhaçada de atrasos é diária. Fazem a gente de marionete!”, reclamou a cabeleireira Rosali Alves Macedo, 45. Como não havia dinheiro em espécie, a SuperVia liberou vale-transporte por volta das 9h31, e conseguiu conter os ânimos.

Em inspeção no local, o Conselho Regional de Engenharia afirmou que os problemas foram causados por falta de manutenção. A Agetransp, agência que regula o transporte público no estado, abriu investigação para apurar responsabilidades e definir punições. Fiscais da agência vistoriaram o local e consideraram o incidente grave. “É uma situação que não pode acontecer”, disse o técnico Hélcio Cícero de Sá.

O secretário estadual de Transportes, Julio Lopes, criticou os atos de vandalismo, mas reconheceu que é preciso reequipar os trens. Ele afirmou que o governo vem se esforçando para modernizar o transporte, mas que o processo é demorado. “Isso não se faz num estalar de dedos. A gente não vai à esquina e compra um vagão”, justificou.

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