terça-feira, 2 de março de 2010

Nos subterrâneos do planeta, metrô do Rio fica na lanterna

Fonte: O Dia

Na semana em que os problemas do metrô do Rio foram parar na Justiça e colocaram em xeque o serviço prestado pela concessionária, O DIA convidou cariocas que moram em outras grandes metrópoles para comparar os sistemas metroviários do Rio, Londres, Nova York, Tóquio, Paris, Madri, Buenos Aires, Frankfurt e Lisboa.

No quesito abrangência da malha, o Rio está na lanterna: tem trilhos 13 vezes menos extensos do que os nova-iorquinos e perde para Buenos Aires, 12 km mais abrangente que o nosso. A avaliação geral é a de que o metrô daqui está longe dos mais altos padrões mundiais. Com ressalvas para a limpeza e a beleza das estações: pontos para o carioca.

Moro há oito anos em Frankfurt (Alemanha). A organização do sistema de metrô aqui é impressionante. Recentemente, estive no Rio por três meses. Não andei de metrô, porque fiquei inseguro. Me acostumei com a organização, o sistema funcionando, com os horários certos. No Rio, é justamente o contrário. Então, para não colocar em risco meus passeios, aluguei um carro e aproveitei bastante”, admite o carioca Ricardo Hoffmann, 47 anos, agente da Lufthansa.

Ele conta que, na Alemanha, a pontualidade é britânica: se o trem está programado para as 11h03, o passageiro pode contar os segundos. “E quanto mais estações você pegar, mas em conta fica o bilhete. O passe é comprado em máquinas. Não tem bilheteria”.

Extensão da malha, número de estações, periodicidade e lotação foram algumas vantagens destacadas por quem vive principalmente na Europa. Com a maior malha subterrânea do mundo, Nova York transporta anualmente mais de 1,4 bilhão de passageiros. O aposentado Alonso Albuquerque, 61, que morou na cidade americana por um ano, diz que, apesar do alto número de usuários, os trens lá não registram superlotação.

"Nunca vi em Nova York trens tão lotados como no Rio. Os maiores problemas lá são a limpeza e a segurança em algumas estações na área da periferia. De maneira geral, o sistema funciona muito bem”, pondera.

Sistema metroviário mais antigo do mundo, o londrino é exemplo em eficiência. Além de atender a capital inglesa de ponta a ponta, conta com excelentes sistemas de sinalização e informações. “Existem muitas linhas que se ligam e cobrem a cidade toda. Cada uma tem um nome e uma cor específica, para fácil reconhecimento”, conta Fabíola Fernandes.

Do outro lado do globo, Tóquio, no Japão, apresenta estações confortáveis e um sistema que prima pela pontualidade das composições. Entretanto, nos horários de pico perde — imagine que sufoco! — para o metrô do Rio em lotação dos vagões. “Também não funcionam a noite inteira. Todos os trens param à meia-noite e meia”, conta Ricardo Piras.

Em Paris, a quantidade de estações e o horário prolongado de funcionamento, 20 horas por dia, são os pontos altos. Mas as greves, que no Rio são raríssimas, são o maior problema. “Pegar metrô para mim significa liberdade. São mais de 16 linhas e umas 300 estações. Posso ir aonde quiser. Das 5h da manhã à 1h”, diz Iure Vieira.

Eficiência é o ponto alto na Europa e em Buenos Aires

Em Madri, há “uma estação de metrô em cada esquina”. A jornalista Isabela Kopke, que vive há cinco anos lá, lamenta que o Rio esteja muito longe do padrão de qualidade da cidade espanhola. “O Rio é infinitamente maior que Madri, um motivo a mais para oferecer uma rede de transporte pública mais eficiente e abrangente, capaz de atender a maioria e não uma minoria”, critica. No sistema madrilenho, há o luxo de vagões com compartimento para bagagens. Os carros têm com ar-condicionado e calefação.

A pontualidade é o destaque em Lisboa. “Embora não seja barato, na comparação com outros países europeus, o sistema português é um dos mais organizados e precisos do mundo, mas não possui muitas linhas e não está integrado com os ônibus”, explica Ivana Ebel, que morou um ano lá, e estuda Artes na Alemanha. Ela também elogia a eficiência do sistema em Hamburgo, no país onde vive.

Já nossos vizinhos argentinos sofrem com o calor: lá não tem ar-condicionado. Mas o intervalo dos trens é nota 10. “As composições chacoalham muito e as luzes se acendem e apagam o tempo todo. O bom é que cobre toda a cidade, é bastante barato e os intervalos são curtíssimos. Quase não há atrasos”, conta Giuliana Perticari, 17 anos.

Problemas foram parar na Justiça

Esta semana será decisiva para os problemas do metrô do Rio. A Justiça deve se pronunciar sobre o pedido do Ministério Público (MP) de interdição da conexão direta Pavuna-Botafogo. Na ação civil pública, o promotor Carlos Andresano Moreira, requer também que a empresa suspenda a venda de bilhetes quando as estações estiverem lotadas para garantir a segurança dos passageiros.

A ação foi baseada em estudo técnico do engenheiro de transportes, Fernando Mac Dowell. Ele aponta risco de colisão entre os trens das linhas 1 e 2. A Justiça também pode obrigar a Alerj a montar uma CPI do metrô, através de ação do deputado Alessandro Molon (PT).

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