domingo, 14 de março de 2010

‘O metrô precisa começar a agir logo’

Fonte: O Dia
POR MAHOMED SAIGG

Rio - Contratado para adaptar o metrô de Londres, capital da Inglaterra, às necessidades da sede olímpica de 2012, o engenheiro Lars Walther esteve no Rio semana passada para participar do 7º Seminário Nacional Metroferroviário. Um dos consultores mais respeitados do mundo no assunto, Lars se mostrou preocupado com a situação do metrô do Rio, o qual conheceu ao prestar consultoria para a concessionária carioca, que frequentemente compara o sistema daqui ao inglês.

Engenheiro Lars Walther diz que Metrô Rio tem que agir rápido para se adaptar para as Olimpíadas | Foto: DivulgaçãoEngenheiro Lars Walther diz que Metrô Rio tem que agir rápido para se adaptar para as Olimpíadas | Foto: Divulgação

Ele alertou sobre a necessidade de comprar novos trens, mas também destacou a importância de se investir em tecnologia para garantir a segurança dos passageiros. Em entrevista a O DIA, o consultor também falou sobre os planos de ampliação do sistema com a construção de novas estações e os prazos para a execução de todos os projetos.

O DIA: O metrô do Rio enfrenta hoje sua pior crise desde que foi inaugurado, em 1979. Além das frequentes panes, a superlotação também é um problema. Como reverter esta situação até os Jogos Olímpicos de 2016 na cidade?
LARS: A solução para todos esses problemas é uma só: investir no setor. Não há nenhuma resposta mágica. O primeiro passo é identificar o que está provocando essas panes, para que se possam definir estratégias capazes de solucioná-las. Mas é preciso começar a agir logo, para que tudo esteja pronto dentro do prazo estabelecido pelo COI (Comitê Olímpico Internacional). Senão, o Rio poderá ter sérios problemas para conseguir atender a todos os turistas que estarão na cidade para os Jogos Olímpicos

- Os seis anos que faltam para as Olimpíadas são tempo suficiente para corrigir todos esses problemas?
- Sim, mas desde que se comece a agir imediatamente. Por mais que pareça muito tempo para algumas coisas, seis anos é pouco para transformar um sistema de trens e metrôs. É por isso que a escolha dos países que vão sediar os Jogos é feita com tanta antecedência. Não há tempo a perder, já que estamos falando de obras de grande porte.

- A direção da concessionária Metrô Rio anunciou que não há o que fazer para solucionar os problemas do setor até a chegada dos 114 novos trens comprados pela concessionária, prevista para o fim de 2011. É a única saída para a crise?
- Comprar novos trens é sempre muito importante para melhorar a qualidade do serviço. Quanto mais trens novos, melhor. Mas não acho que tudo se resolva só com a compra de novos trens. É preciso investir em tecnologia de operação e também em sinalização, para que se possa realmente garantir a segurança dos passageiros durante a viagem.

- Em média, as composições usadas no metrô do Rio de Janeiro têm cerca de 40 anos. Pode-se dizer que a frota já está ultrapassada?
- Em Londres, a maioria dos trens estava com idade de 30 anos de uso, o que já é considerado tempo recomendado para substituição. É claro que há como se prolongar essa vida útil com reformas, mas chega-se a um ponto em que a tecnologia dos vagões fica incompatível com a utilizada no sistema de operação. Se considerarmos que em 2016 os trens do Rio terão quase 50 anos de uso, fica evidente a necessidade de substituição. É como se você ficasse décadas com o mesmo carro, só fazendo reparos. Por mais que se faça manutenção, ele não deixará de ser um veículo velho e ultrapassado.

- A Metrô Rio adotou um sistema em que duas linhas se cruzam, chamada operação em Y, para fazer a conexão direta. É uma operação segura?
- Este tipo de operação é, sim, arriscada. Mas acho que a Metrô Rio não tinha outra opção. Se você quer aumentar a capacidade do sistema, precisa usar esse Y. Outra possibilidade seria construir uma nova linha ao lado da existente, mas não há espaço para isso. Você pode eliminar todos esses riscos, tecnicamente falando, com o gerenciamento de operação. É possível, sim.

- O governo do estado anunciou que as obras da Linha 4 do metrô começam ainda este mês. Não seria hora de se pensar em melhorar o sistema existente antes de ampliá-lo?
- As duas coisas podem acontecer ao mesmo tempo. Até porque ampliar a rede e construir novas estações são ações tão importantes quanto melhorar a qualidade do serviço. E para executar esses projetos você leva tempo, anos. É importante que não se deixe de pensar na ampliação do sistema por causa dos problemas já existentes. Mas também é preciso que eles sejam resolvidos. Caso contrário, vão só aumentar e atingir ainda mais pessoas.

- O metrô de Londres já está pronto para receber as Olimpíadas de 2012?
- Pronto, ainda não. Mas já estamos muito perto de concluir os trabalhos. Como o sistema lá não vinha enfrentando grandes problemas, nosso trabalho foi mais direcionado à otimização dos sistemas de sinalização e de energia, para que não faltasse energia para os trens. Todo o investimento foi baseado em estudos técnicos que consideraram o aumento do volume de passageiros durante a Olimpíada.

Um comentário:

  1. ele só comentou sobre a ligação em Y pq não deve conhecer a expansão da linha 2 até a Carioca pelo Lote 29.

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