terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Metrô: ‘Y’ é o X do problema na ligação do metrô

Fonte: O Dia

Utróficas a 150 metros da estação Central do Brasil e dentro do túnel do metrô, o que dificultaria o possível resgate de vítimas. É esse o principal risco da conexão Pavuna-Botafogo (Linha 1) apontado por estudo técnico em que se baseia a ação civil pública movida pelo Ministério Público Estadual (MP) contra a concessionária Metrô Rio. O autor do dossiê, doutor em Engenharia de Transportes Fernando Mac Dowell, chegou a apresentar a tese ao governo do estado. O secretário estadual de Transportes, Júlio Lopes, confirmou ter debatido o assunto com Mac Dowell “diversas vezes”, mas afirma que o estado discorda do especialista.



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Conforme O DIA antecipou domingo, o promotor Carlos Andresano Moreira, da 3ª Promotoria de Justiça e Defesa do Consumidor, pediu a suspensão imediata da circulação de trens entre as estações São Cristóvão e Central, enquanto as obras da ligação não estiverem concluídas. A ação pede ainda que a Justiça impeça a Linha 1A e obrigue a concessionária a fechar os guichês de vendas de bilhetes quando as estações estiverem com lotação máxima. O promotor defende que, com essa medida, serão reduzidos os riscos à vida dos passageiros. “Ainda que a concessionária admita melhorias, as falhas são notórias e os riscos realmente existem”, afirmou Andresano.

Em nota, a Metrô Rio declarou ontem que a conexão Pavuna-Botafogo “está funcionando absolutamente dentro das normas de segurança, sem qualquer risco aos passageiros”. A concessionária rebate as críticas do promotor de que a sinalização seria precária e que os sinais estariam cobertos. Segundo a empresa, linhas 1 e 2 operam de forma adequada e os sacos pretos apenas cobrem sinais “que estão sendo instalados pela concessionária para tornar a Linha 2 totalmente automatizada”.

A alegação da empresa foi contestada por Andresano, que constatou pessoalmente durante viagem pelo trecho em que acontece a ligação em “Y” (o encontro das linhas que vêm da Pavuna e da Tijuca no sentido Zona Sul). “Isso só confirma que, apesar de esforço da concessionária, o sistema de sinalização ainda é feito de forma arcaica, através de homens e rádios transmissores, o que aumenta o risco de falhas, em comparação ao sistema completamente automatizado”, acrescentou.

E são justo as falhas na sinalização que tornam a ligação “Y” uma manobra de risco. Perigo a mais, segundo Fernando Mac Dowell, é o declive na ligação São Cristóvão à Cidade Nova e a disparidade de intervalos. “As chances de falha humana são maiores, sem contar que o trem que sai do declive tem mais dificuldade de frear. Se houver falha no freio, o que é comum, em um dia de chuva, por exemplo, essas composições irão fatalmente colidir, causando uma tragédia”, explica Mac Dowell.

A sinalização manual tem atrasado ainda mais o tempo de viagem de quem utiliza a Linha 2, que sai da Pavuna. E é fonte de preocupação para passageiros do metrô. “Eu me assustei muito quando soube disso”, comentou ontem a corretora de imóveis Isete Lessa, de 70 anos. Moradora da Vila da Penha, Zona Norte, Isete usa o transporte diariamente, no sentido Pavuna e Zona Sul, para visitar clientes e levou um susto ao saber da possibilidade de choque entre composições. “Eu já havia notado que nesse trecho novo, sem baldeação, o metrô para constantemente e ninguém avisa nada, é um absurdo”, reclamou.

O deputado estadual Luiz Paulo Correa da Rocha (PSDB) apresentou há duas semanas projeto de lei que obriga a Metrô Rio a instalar sistema eletrônico que interrompe a venda de passagens quando a taxa de ocupação dos vagões atingir quatro usuários por metro quadrado — hoje esse índice máximo é o dobro. “Esse sistema já poderia ter sido implantado, mas faltou visão estratégica dos órgãos de transporte e da agência reguladora (Agetransp), que não funciona”, criticou o deputado. A Agentransp não quis se pronunciar.

Passageiros negam que haja controle de lotação

Além da superlotação, atrasos e o calor que fica insuportável por causa do ar-refrigerado ineficiente, os passageiros do metrô passaram a ter novo companheiro de viagem: o medo de uma colisão entre São Cristóvão e Central.

Moradora da Zona Sul, a estudante de Direito Rafaela Matriciano, 21 anos, faz estágio na Pavuna e diz que o sofrimento aumentou com a Linha 1A. Para ela, o controle do acesso de passageiros — que o metrô afirma já aplicar — reduziria a superlotação, mas Rafaela ainda não viu essa alternativa em prática. “Nunca travaram a roleta e sempre vou esmagada como numa lata de sardinhas. Esse sistema é um horror”.

O consultor de vendas Carlos Henrique Araújo, 21, desconhecia a ação do MP, mas arregalou os olhos ao ser informado sobre o risco de batida. “Quando todos tomarem ciência será um pânico geral. Piorou muito esse novo sistema”, opinou ele, que trabalha no Centro e mora em Irajá.

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