quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Cabral admite que bondes de Santa Teresa não têm controle do número de passageiros e estão sucateados

Fonte: O Globo

O governador Sérgio Cabral admitiu, na manhã desta quarta-feira, que os bondes de Santa Teresa estão sucateados, que não há controle na entrada do número de passageiros e que houve problema de gestão no transporte. Ele acrescentou que alguns veículos já foram reformados, mas outros ainda não. Cabral comentou o assunto antes do evento de comemoração pela doação que o empresário Eike Batista fez ao hospital Pro Criança no canteiro de obras da unidade em Botafogo, Zona Sul do Rio. Foi a primeira vez que ele falou publicamente sobre a situação dos bondes, após o acidente que matou cinco pessoas e deixou 57 feridas no sábado.

- A verdade é que a frota do bondinho hoje é muito sucateada. E não há nenhum controle de passageiros - ressaltou Cabral. O bonde que sofreu acidente no sábado levava 61 pessoas enquanto a lotação máxima é de 40.

Cabral negou que houvesse falta de investimento no sistema:

- Foram R$ 14 milhões em investimentos para a recuperação de bondes e trilhos. Mas me parece que houve problema de gerência - comentou Cabral.

O secretário de Transportes, Júlio Lopes, no entanto, admitiu, na sede da secretaria, também em Botafogo, que o valor não foi suficiente, apesar de avaliar que os R$ 14 milhões foram significativos. Segundo ele, era o que havia disponível.

- Tivemos muitas prioridades, e faltaram investimentos - afirmou.

O governador, que estava acompanhado da primeira-dama, Adriana Ancelmo, acrescentou que alguns países, como Portugal, encontraram soluções como colocar apenas uma entrada e uma saída nos bondes para controlar o número de passageiros.

- Pelo que foi informado nesta terça, as autoridades patrimoniais daqui resistem a isso - afirmou o governador, ressaltando que é preciso aguardar a perícia para avaliar as razões do acidente.

Quando foi indagado pelos jornalistas, por três vezes, sobre a possível exoneração do secretário de Transportes, o governador não se pronunciou.

O secretário Júlio Lopes comentou o fato de, neste mês de agosto, o bonde acidentado ter sido encaminhado 13 vezes para a oficina. Ele afirmou que era um bonde antigo, "de mais de 100 anos", e que toda vez que apresentava algum problema, parava, mas que não era possível prever acidentes.

- A segurança é nossa prioridade máxima - disse o secretário, apesar de nos últimos anos terem ocorridos vários acidentes nos bondinhos de Santa Teresa com mortes.

Rogério Onofre informará os resultados de seu trabalho, que não tem prazo para acabar, diretamente ao governador. A área de bondes da Companhia Estadual de Engenharia de Transporte e Logística (Central) ficará subordinada à presidência do Detro, o que será confirmado num decreto de Cabral. O restante da companhia, que administra outros ramais ferroviários do Rio, continuará sob responsabilidade da Secretaria de Transportes. O secretário Júlio Lopes não quis comentar a intervenção.

O transporte sobre trilhos é motivo de uma ação de improbidade administrativa movida pelo Ministério Público estadual contra Onofre. Ele é acusado de causar dano ao erário ao comprar sem licitação uma locomotiva durante a sua gestão à frente da prefeitura de Paraíba do Sul - onde foi prefeito por dois mandatos (1997 a 2004).

Onofre explicou que decidiu desapropriar e comprar a locomotiva porque não era possível abrir concorrência para a aquisição de um trem fabricado em 1910. A locomotiva foi usada para fazer o transporte de passageiros entre Paraíba do Sul e Paty do Alferes.

O presidente do Detro classificou como uma "missão difícil e árdua" a tarefa de reorganizar os bondes de Santa Teresa. Ele ressaltou a importância da intervenção num setor relevante para o turismo na cidade:

- O transporte por bondes é muito importante para o turismo do Rio e precisa ser tratado com seriedade. É um grande receptivo turístico de nível internacional.
Segundo Onofre, o levantamento da situação de segurança e funcionamento dos bondes começa nesta quarta, quando ele pretende se reunir com a direção da Central Logística e com representantes da Secretaria de Transportes.

- Prometo trabalho e luta para apresentar um diagnóstico da situação dos bondes. Vou fazer um trabalho em silêncio. Vamos trabalhar com parte da equipe do Detro e com pessoal cedido pelo gabinete civil. É uma operação de emergência, para a qual, por determinação do governador, posso requisitar funcionários de outras secretarias.

Enquanto durar a intervenção, o presidente do Detro acumulará funções. Depois do reordenamento dos bondes, ele informou que voltará a se dedicar exclusividade ao Detro. Onofre tem 54 anos e está há cinco anos à frente do Detro. Ex-prefeito de Paraíba do Sul pelo extinto PSB, mas hoje está sem partido, ele admitiu sua falta de experiência no transporte ferroviário:

- Quando entrei no Detro não tinha experiência em transporte alternativo. Nunca tinha entrado numa van. Experiência se adquire com muita dedicação e trabalho em equipe.
Alvo de pelo menos um atentado, por conta de sua atuação na repressão às vans irregulares, o presidente do Detro disse que continuará despachando cada dia de um lugar diferente e que sua segurança pessoal será mantida:

- Eu sei que isso não é vida para ninguém, já sofri atentados. Eu tinha uma missão árdua e agora tenho duas. Vou trabalhar para que isso (o acidente) não volte a acontecer. Esta é minha principal missão.

O delegado titular da 7ª DP (Santa Teresa), Tarcísio Jansen, pediu na terça-feira à Central informações sobre a manutenção dos bondes e a sua dotação orçamentária. Jansen quer saber se os recursos destinados pelo estado à empresa são suficientes para a manutenção do sistema e se a verba tem sido recebida e aplicada de maneira correta. A estatal tem sete dias para responder. O delegado disse que também vai ouvir os responsáveis pela manutenção dos bondes.

Peritos do Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE) foram ontem até a oficina dos bondes, em Santa Teresa, recolher peças para análise. As principais são as sapatas do freio do veículo acidentado, localizadas próximo ao ponto onde foi encontrado um pedaço de arame no lugar de um parafuso. As sapatas já tinham levantado suspeitas do Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura (Crea-RJ), que encontrou uma peça gasta. O Sindicato dos Ferroviários também informou que essas sapatas teriam sido trocadas dias antes da tragédia e que o material usado seria inadequado, não obedecendo a especificações técnicas.

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